Cidade do Sul de MG
exporta produtos para diversos países.
Segredo para o
crescimento está na formação de pessoas, afirma sindicato.
Estudantes do ensino
público de Santa Rita do Sapucaí, pequena cidade a 400 km de Belo Horizonte,
começam a ter aulas de noções de robótica logo aos seis anos de idade. A
educação para a tecnologia faz parte de um projeto para desenvolver o talento
dos jovens que vivem na região conhecida como Vale da Eletrônica, onde um
quarto da população atua na indústria de produtos eletrônicos. Ali funcionam
142 empresas, que geram 10 mil empregos diretos, produzem 13,7 mil itens
eletroeletrônicos e que faturam R$ 1,7 bilhão por ano.
A educação é uma das
principais apostas das empresas do município para formar mão-de-obra
qualificada para trabalhar nas empresas da região, segundo o presidente do
Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do
Vale da Eletrônica (Sindvel), Roberto de Souza Pinto. “As empresas nascem da
estrutura do ser humano, pois sem ele, quem vai mover as máquinas? Acreditamos
que devemos investir e valorizar o ser humano para crescer tecnologicamente”,
disse.
Santa Rita do Sapucaí
se destaca nacionalmente por ser o único centro de indústrias de tecnologia a
produzir urnas eletrônicas, tokens usados por bancos e transmissores e
componentes eletrônicos para a transmissão de sinal de TV digital. O incentivo
para o ensino de robótica partiu da empresa “AMEducação”, que representa o
instituto Lego Education no Sul de Minas e idealiza os torneios de robótica.
Além da educação, as
empresas do vale também incentivam a oferta de oportunidades para os jovens que
trabalham com tecnologia na região, chegando a formar incubadoras de projetos
novos.
“O jovem que acaba de
se formar não possui recursos. Ele foi dependente dos pais durante muitos anos
e sai sem nada da universidade. Nestes casos, muitos dos jovens possuem ideias
brilhantes e podem ser muito úteis, mas não possuem dinheiro para investir”,
explica Pinto.
Nestes casos, o
recém-formado que tem uma ideia de produto se reúne com o Sindvel para
apresentar um projeto. Caso ele seja aprovado, o idealizador é contratado e o
produto oferecido é montado para ser comercializado.
A Hitachi,
multinacional japonesa, que fechou um acordo para comprar parte da Linear, a
mais antiga empresa do Vale da Eletrônica, aproveitou toda a mão de obra que já
estava na empresa, diz o Sindvel. “Não houve demissões. Além de adquirir 50% da
empresa, a Hitachi também investiu no cérebro que já movimentava aquela
indústria”, explica Pinto.
Capacitação começa
cedo
Em 2012, dez
estudantes entre 10 a 15 anos da Escola Estadual Dr. Luiz Pinto de Almeida
foram selecionados para o torneio internacional de robótica “First Lego
League”, que será disputado entre 3 e 6 de maio na Flórida, nos Estados Unidos.
O grupo X-Factor teve que concorrer com 45 equipes de nove estados brasileiros
e foi a única de Minas Gerais a se classificar para o torneio.
Os alunos admitem que
não conheciam muito a robótica quando integraram o projeto. “Quando convidaram
os alunos de sala em sala achei uma oportunidade incrível. Eu não tinha muita
noção, mas durante o processo de montagem e nas competições tudo ficou mais
claro”, conta a integrante do X-Factor Laíza Costa Vicentini, de 13 Anos.
Na competição, os
robôs construídos pelas equipes precisam concluir 15 tarefas que devem ser
executadas em um prazo de dois minutos e meio em cima de uma plataforma. Mais
de 60 equipes de todo o mundo devem participar da competição.
O diretor da
AMEducação, Nilton Sérgio Joaquim, explica que o torneio Lego não visa mostrar
quem é melhor. “Essa competição surgiu após uma pesquisa revelar que os jovens
não estavam se interessando por cursos de exatas, como a engenharia por
exemplo. O intuito é desmistificar as ciências exatas para os jovens por meio
da robótica”, afirma.
Incubadoras
As empresas de Santa
Rita do Sapucaí oferecem oportunidades de crescimento para os funcionários.
Elas funcionam como incubadoras, que são instituições que auxiliam no
desenvolvimento de micro e pequenas empresas nascentes e em operação, que
buscam a modernização de suas atividades para transformar ideias em produtos,
processos e serviços.
Essas novas empresas
recebem suporte gerencial, administrativo e mercadológico, além de apoio
técnico para o desenvolvimento do produto. Com isso, o empreendimento pode ser
acompanhado desde a fase de planejamento até a consolidação de atividades com a
consultoria de especialistas.
Em uma empresa que
produz alarmes e equipamentos de segurança em Santa Rita do Sapucaí, o diretor
Fernando Barbosa Mota explica que já deu apoio a funcionários que demonstraram
ter uma visão mais ampla de negócio.
“Tive uma
colaboradora que sempre teve um desenvolvimento muito bom aqui dentro. Eu
enxerguei que ela tinha capacidade de ter o próprio negócio dela. Hoje, ela tem
uma empresa de montagem com 50 pessoas que oferece serviços para a minha
empresa”, diz Mota.
O diretor também
conta que lá os funcionários recebem outro nome e são chamados de
colaboradores. “Aqui nós mostramos para as pessoas que elas são peças
importantes e de que nada opera sozinho, portanto precisamos da colaboração
delas”, explica.
Uma das colaboradoras
mais antigas da empresa, Juliane Vilela Toledo, de 34 anos, trabalha na área de
documentação e se sente bem onde está. “O ambiente aqui é muito bom, todo mundo
é amigo e os diretores se aproximam da gente, nos dão oportunidades. É como uma
grande família”, conta.
Há oito anos na empresa,
Rosiene Marcolino Silva, de 36 anos, começou como auxiliar de produção e hoje é
supervisora. “Aqui nós podemos crescer e isso nos trás muita segurança”, diz.
A empresa foi
apontada com uma das 100 melhores do Brasil para se trabalhar conforme reportagem
da Revista Época. Por ano, duas mil pessoas de todo o país visitam a empresa
para receber treinamento.
Competição em
igualdade
Em 2011, Santa Rita
do Sapucaí exportou produtos para 46 países. Entre os itens estão aparelhos
telefônicos, componentes eletrônicos, aparelhos de transmissão e recepção de TV
digital e analógica, sensores de iluminação e tokens.
De acordo com o
presidente do Sindvel, o mito de que os produtos fabricados no Brasil são de
qualidade inferior foi vencido. Para ele, o país tem plenas condições de ganhar
o mercado internacional.
"Essa história
de que o que é produzido aqui é ruim não passa de uma persistência de cultura.
Hoje temos empreendedores excepcionais na área da eletrônica no Brasil e nós
crescemos em exportação dia a dia. Se nossos produtos fossem ruins, países como
EUA e Japão não iriam importar da gente", conclui Pinto.
Fonte: http://g1.globo.com
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