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quarta-feira, 23 de maio de 2012

No Vale da Eletrônica, alunos têm noção de robótica a partir de 6 anos



Cidade do Sul de MG exporta produtos para diversos países.

Segredo para o crescimento está na formação de pessoas, afirma sindicato.

Estudantes do ensino público de Santa Rita do Sapucaí, pequena cidade a 400 km de Belo Horizonte, começam a ter aulas de noções de robótica logo aos seis anos de idade. A educação para a tecnologia faz parte de um projeto para desenvolver o talento dos jovens que vivem na região conhecida como Vale da Eletrônica, onde um quarto da população atua na indústria de produtos eletrônicos. Ali funcionam 142 empresas, que geram 10 mil empregos diretos, produzem 13,7 mil itens eletroeletrônicos e que faturam R$ 1,7 bilhão por ano.

A educação é uma das principais apostas das empresas do município para formar mão-de-obra qualificada para trabalhar nas empresas da região, segundo o presidente do Sindicato das Indústrias de Aparelhos Elétricos, Eletrônicos e Similares do Vale da Eletrônica (Sindvel), Roberto de Souza Pinto. “As empresas nascem da estrutura do ser humano, pois sem ele, quem vai mover as máquinas? Acreditamos que devemos investir e valorizar o ser humano para crescer tecnologicamente”, disse.

Santa Rita do Sapucaí se destaca nacionalmente por ser o único centro de indústrias de tecnologia a produzir urnas eletrônicas, tokens usados por bancos e transmissores e componentes eletrônicos para a transmissão de sinal de TV digital. O incentivo para o ensino de robótica partiu da empresa “AMEducação”, que representa o instituto Lego Education no Sul de Minas e idealiza os torneios de robótica.

Além da educação, as empresas do vale também incentivam a oferta de oportunidades para os jovens que trabalham com tecnologia na região, chegando a formar incubadoras de projetos novos.

“O jovem que acaba de se formar não possui recursos. Ele foi dependente dos pais durante muitos anos e sai sem nada da universidade. Nestes casos, muitos dos jovens possuem ideias brilhantes e podem ser muito úteis, mas não possuem dinheiro para investir”, explica Pinto.

Nestes casos, o recém-formado que tem uma ideia de produto se reúne com o Sindvel para apresentar um projeto. Caso ele seja aprovado, o idealizador é contratado e o produto oferecido é montado para ser comercializado.

A Hitachi, multinacional japonesa, que fechou um acordo para comprar parte da Linear, a mais antiga empresa do Vale da Eletrônica, aproveitou toda a mão de obra que já estava na empresa, diz o Sindvel. “Não houve demissões. Além de adquirir 50% da empresa, a Hitachi também investiu no cérebro que já movimentava aquela indústria”, explica Pinto.

Capacitação começa cedo

Em 2012, dez estudantes entre 10 a 15 anos da Escola Estadual Dr. Luiz Pinto de Almeida foram selecionados para o torneio internacional de robótica “First Lego League”, que será disputado entre 3 e 6 de maio na Flórida, nos Estados Unidos. O grupo X-Factor teve que concorrer com 45 equipes de nove estados brasileiros e foi a única de Minas Gerais a se classificar para o torneio.

Os alunos admitem que não conheciam muito a robótica quando integraram o projeto. “Quando convidaram os alunos de sala em sala achei uma oportunidade incrível. Eu não tinha muita noção, mas durante o processo de montagem e nas competições tudo ficou mais claro”, conta a integrante do X-Factor Laíza Costa Vicentini, de 13 Anos.

Na competição, os robôs construídos pelas equipes precisam concluir 15 tarefas que devem ser executadas em um prazo de dois minutos e meio em cima de uma plataforma. Mais de 60 equipes de todo o mundo devem participar da competição.
O diretor da AMEducação, Nilton Sérgio Joaquim, explica que o torneio Lego não visa mostrar quem é melhor. “Essa competição surgiu após uma pesquisa revelar que os jovens não estavam se interessando por cursos de exatas, como a engenharia por exemplo. O intuito é desmistificar as ciências exatas para os jovens por meio da robótica”, afirma.

Incubadoras

As empresas de Santa Rita do Sapucaí oferecem oportunidades de crescimento para os funcionários. Elas funcionam como incubadoras, que são instituições que auxiliam no desenvolvimento de micro e pequenas empresas nascentes e em operação, que buscam a modernização de suas atividades para transformar ideias em produtos, processos e serviços.

Essas novas empresas recebem suporte gerencial, administrativo e mercadológico, além de apoio técnico para o desenvolvimento do produto. Com isso, o empreendimento pode ser acompanhado desde a fase de planejamento até a consolidação de atividades com a consultoria de especialistas.

Em uma empresa que produz alarmes e equipamentos de segurança em Santa Rita do Sapucaí, o diretor Fernando Barbosa Mota explica que já deu apoio a funcionários que demonstraram ter uma visão mais ampla de negócio.

“Tive uma colaboradora que sempre teve um desenvolvimento muito bom aqui dentro. Eu enxerguei que ela tinha capacidade de ter o próprio negócio dela. Hoje, ela tem uma empresa de montagem com 50 pessoas que oferece serviços para a minha empresa”, diz Mota.

O diretor também conta que lá os funcionários recebem outro nome e são chamados de colaboradores. “Aqui nós mostramos para as pessoas que elas são peças importantes e de que nada opera sozinho, portanto precisamos da colaboração delas”, explica.

Uma das colaboradoras mais antigas da empresa, Juliane Vilela Toledo, de 34 anos, trabalha na área de documentação e se sente bem onde está. “O ambiente aqui é muito bom, todo mundo é amigo e os diretores se aproximam da gente, nos dão oportunidades. É como uma grande família”, conta.

Há oito anos na empresa, Rosiene Marcolino Silva, de 36 anos, começou como auxiliar de produção e hoje é supervisora. “Aqui nós podemos crescer e isso nos trás muita segurança”, diz.

A empresa foi apontada com uma das 100 melhores do Brasil para se trabalhar conforme reportagem da Revista Época. Por ano, duas mil pessoas de todo o país visitam a empresa para receber treinamento.

Competição em igualdade

Em 2011, Santa Rita do Sapucaí exportou produtos para 46 países. Entre os itens estão aparelhos telefônicos, componentes eletrônicos, aparelhos de transmissão e recepção de TV digital e analógica, sensores de iluminação e tokens.

De acordo com o presidente do Sindvel, o mito de que os produtos fabricados no Brasil são de qualidade inferior foi vencido. Para ele, o país tem plenas condições de ganhar o mercado internacional.

"Essa história de que o que é produzido aqui é ruim não passa de uma persistência de cultura. Hoje temos empreendedores excepcionais na área da eletrônica no Brasil e nós crescemos em exportação dia a dia. Se nossos produtos fossem ruins, países como EUA e Japão não iriam importar da gente", conclui Pinto.

Fonte: http://g1.globo.com

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