A
violência está presente nas escolas através do bullying e do cyberbullying. A
Psicóloga orienta as escolas na prevenção e no combate ao problema. (Vale
ressaltar que adultos também são vítimas de
bullying e têm carreira prejudicada. De Ciro Rod)
Por Luiza Oliva
Cooperação, solidariedade, cultura da paz. Esses
conceitos não poderão ser trabalhados de maneira eficiente na escola se as
relações estiverem pontuadas pela violência. Infelizmente, a realidade de
escolas com diversos perfis socioeconômicos mostra que o bullying tem pautado o
dia a dia de muitos alunos. Segundo Maria Tereza Maldonado, mestre em
Psicologia Clínica pela PUC-Rio, o bullying se caracteriza por ações
repetitivas de agressão física e/ou verbal com a clara intenção de prejudicar a
vítima. “O cyberbullying é ainda mais terrível, porque a perseguição é
implacável. A vítima é atacada por mensagens de celular, filmada ou fotografada
secretamente em situações constrangedoras que podem ser colocadas na rede. O
agressor pode criar um perfil falso da vítima em sites de relacionamento para
difamá-la ou adulterar fotos em que, por exemplo, ela aparece como garota de
programa, com seu celular divulgado pelas listas de contato do agressor e de
seus amigos”, constata Maria Tereza.
Para a profissional, o cotidiano da escola oferece
inúmeras oportunidades de trabalhar os valores fundamentais do convívio:
respeito, solidariedade, colaboração, gentileza. “As escolas que fizeram
campanhas antibullying bem sucedidas trabalharam com toda a equipe escolar e
buscaram a parceria das famílias no sentido de criar uma cultura de não
tolerância às ações do bullying e do cyberbullying, colocando os limites
devidos e as consequências cabíveis às condutas de agressão, estimulando a
expansão dos recursos para fortalecer as vítimas, propiciando aos agressores o
bom uso de suas capacidades de cyberbullying (Editora Saraiva), em que conta a história
de Luciana, adolescente que vive imersa no mundo virtual e que se torna vítima
do cyberbullying. Acompanhe a seguir a entrevista que Maria Tereza Maldonado
concedeu à Direcional Educador.
DIRECIONAL EDUCADOR - Como decidiu começar a escrever
livros de ficção para jovens abordando temas relativos à cultura da paz?
MARIA TEREZA MALDONADO - A construção da paz é o núcleo
básico do meu trabalho como psicoterapeuta, palestrante e escritora. Considero
as três vertentes do trabalho diário da construção da paz: a busca da harmonia
consigo mesmo, com os outros e com o ambiente em que vivemos. Com os altos
índices de violência e de degradação ambiental que nos atingem é preciso
promover uma revolução da consciência que passa pela ética de cuidar bem de
nós, dos outros que formam a imensa família humana e da nossa morada
planetária. É preciso investir na formação das novas gerações de seres humanos
para tornar essa revolução possível. Por isso, decidi escrever para os jovens:
nesses livros, elaboro histórias baseadas em fatos reais de experiências
bem-sucedidas em várias cidades brasileiras que tive a oportunidade de
conhecer. Esses livros estão sendo adotados por um grande número de escolas
como leitura recomendada para alunos entre a quinta e a oitava séries. Fico
muito feliz quando recebo emails de jovens leitores ou quando converso com
grupos de alunos que leram algumas dessas obras. Já publiquei Viver melhor,
Redes solidárias, Florestania, Nos passos da dança. O mais recente é A face
oculta, que aborda o tema do bullying e do cyberbullying.
A escola está sabendo lidar com a questão do bullying e
do cyberbullying?
O bullying sempre aconteceu em todas as escolas: por
muito tempo, considerou-se “brincadeira de crianças” e não se deu maior
importância para o tema. É semelhante ao que tradicionalmente acontecia na
educação dos filhos: os pais se achavam no direito de xingar, espancar e
cometer outras formas de violência para “endireitar” as crianças rebeldes.
Atualmente, esses casos vão parar nos Conselhos Tutelares como ações de
violência intrafamiliar, que precisam ser tratadas para que os pais se
conscientizem do direito das crianças de serem educadas sem violência. Com o
bullying está começando a acontecer algo idêntico: é preciso trabalhar o
conceito de que “agressão não é diversão”. Condutas de perseguição implacável,
mensagens difamadoras e depreciativas, agressões físicas ou verbais não são
aceitáveis. Quando a tecnologia passou a ser usada como meio de agressão, os
efeitos devastadores sobre as vítimas aumentaram significativamente: no
cyberbullying, a perseguição implacável por meio do celular, dos sites de
relacionamento e dos sites de vídeos pode acontecer sete dias por semana, 24 horas
por dia. É desesperador. E as escolas sentem muitas dificuldades de lidar com
isso. Algumas já conseguiram estruturar campanhas antibullying envolvendo os
alunos, as famílias e toda a equipe escolar, conseguindo bons resultados.
Como o bullying se manifesta?
As expressões mais comuns da agressão são a humilhação,
apelidos depreciativos, jogos de poder dos “chefes” e dos “populares”, da turma
que submete os colegas, intimidando-os para que obedeçam aos seus comandos sob pena
de exclusão do grupo, ameaças de agressão física ou constrangimento moral,
mensagens difamatórias ou ofensivas. São ataques maciços à autoestima que, em
muitos casos, estimulam na vítima sentimentos de rejeição, dificuldades de
inserção no grupo, medo de ir à escola, crises de angústia e estados depressivos.
Qual é o perfil mais comum da vítima e dos agressores?
As vítimas costumam ser crianças e adolescentes
inseguras, tímidas, com dificuldades de comunicação; os que se destacam como
ótimos alunos, estimulando os ataques por inveja. O perfil mais comum dos
agressores: pessoas inseguras, que já foram vítimas de ataques e que têm
dificuldades de relacionamento, com pouca empatia; as que desenvolvem
capacidade de liderança, utilizada de modo negativo; as sociopatas,
manipuladoras, que se divertem causando sofrimento. Muitas vítimas sofrem em
silêncio, por medo ou por vergonha de revelar que estão sendo atacadas, o que
aumenta o poder do agressor. É importante também o papel das testemunhas:
muitas se calam por medo de serem as próximas vítimas. Porém, podem ter um
papel fundamental para inibir a ação dos agressores, formando uma rede de
proteção.
Uma escola aberta, que ouve as necessidades dos alunos e
da comunidade, está menos propensa a viver situações de bullying?
Sem dúvida, em especial as que elaboram os “contratos de
convivência”, em que se discute claramente o que é aceitável e o que não é nos
relacionamentos que ocorrem no ambiente escolar. Muda-se o conceito: é possível
brincar saudavelmente, sem se divertir às custas do sofrimento dos outros.
Trabalha- se a empatia, um ingrediente fundamental da inteligência social e
colocam-se consequências, tais como reparação dos danos, quando os “acordos de
bom convívio” não são respeitados. Essa é a melhor forma de prevenir o bullying.
O contrato de convivência coloca regras claras, evita muitos episódios de
agressão, mas mesmo assim há os transgressores que gostam de testar os limites
para ver se as consequências combinadas realmente acontecerão ou se tudo
“acabará em pizza”. Portanto, episódios de bullying acontecerão e precisarão
ser abordados. Os acordos de bom convívio podem ser feitos também com crianças
pequenas que, com a orientação dos professores, elaboram as “leis da turma” e
as consequências cabíveis quando não são cumpridas. Esse é um modo de
transmitir na prática do dia a dia do convívio escolar os valores fundamentais:
respeito, consideração, gentileza, cooperação. Uma experiência interessante é a
das escolas associadas ao Programa de Cultura da Paz da UNESCO (a rede PEA) que
utiliza muitos recursos para estimular nas crianças a resolver conflitos de
modo não-violento e a canalizar a agressividade para fins construtivos.
E quando a escola constata a violência, como agir?
Dependendo da gravidade do caso, os pais deverão ser
chamados. Porém, em muitas circunstâncias, abordar a questão com a turma ou em
conversas com agressores e agredidos será suficiente. É importante que o
agressor assuma a responsabilidade por seus atos: o mais comum é negar ou
colocar a culpa em outros, até mesmo na vítima, acusando-a de tê-lo provocado.
Abordar o tema com a turma é importante, especialmente nos casos de apelidos
depreciativos e de exclusão, que ocorrem com frequência. São oportunidades de
estimular a reflexão: “E se fosse com você?”. A conversa em grupo também é útil
para estimular a criação de recursos para lidar com os episódios de bullying,
desestimulando o autor a prosseguir com os ataques. No cyberbullying, a questão
é mais complexa porque é comum o agressor se esconder no anonimato da rede. É
importante esclarecer aos alunos que a prática do cyberbullying é crime
passível de punição por meios legais e que é possível descobrir a verdadeira
identidade do agressor. liderança e o aumento da empatia, estimulando a ação
eficaz das testemunhas. O resultado é a melhoria da qualidade dos
relacionamentos e o uso responsável da tecnologia”, diz. Fazer uso da
literatura é outro caminho na prevenção à violência.
Fonte: Maria Tereza Maldonado. Mestre em Psicologia
Clínica pela PUC-Rio
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