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sábado, 11 de maio de 2013

Bullying e Cyberbullying uma Ação Covarde



A violência está presente nas escolas através do bullying e do cyberbullying. A Psicóloga orienta as escolas na prevenção e no combate ao problema. (Vale ressaltar que adultos também são vítimas de bullying e têm carreira prejudicada. De Ciro Rod)

Por Luiza Oliva

Cooperação, solidariedade, cultura da paz. Esses conceitos não poderão ser trabalhados de maneira eficiente na escola se as relações estiverem pontuadas pela violência. Infelizmente, a realidade de escolas com diversos perfis socioeconômicos mostra que o bullying tem pautado o dia a dia de muitos alunos. Segundo Maria Tereza Maldonado, mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio, o bullying se caracteriza por ações repetitivas de agressão física e/ou verbal com a clara intenção de prejudicar a vítima. “O cyberbullying é ainda mais terrível, porque a perseguição é implacável. A vítima é atacada por mensagens de celular, filmada ou fotografada secretamente em situações constrangedoras que podem ser colocadas na rede. O agressor pode criar um perfil falso da vítima em sites de relacionamento para difamá-la ou adulterar fotos em que, por exemplo, ela aparece como garota de programa, com seu celular divulgado pelas listas de contato do agressor e de seus amigos”, constata Maria Tereza.

Para a profissional, o cotidiano da escola oferece inúmeras oportunidades de trabalhar os valores fundamentais do convívio: respeito, solidariedade, colaboração, gentileza. “As escolas que fizeram campanhas antibullying bem sucedidas trabalharam com toda a equipe escolar e buscaram a parceria das famílias no sentido de criar uma cultura de não tolerância às ações do bullying e do cyberbullying, colocando os limites devidos e as consequências cabíveis às condutas de agressão, estimulando a expansão dos recursos para fortalecer as vítimas, propiciando aos agressores o bom uso de suas capacidades de cyberbullying (Editora Saraiva), em que conta a história de Luciana, adolescente que vive imersa no mundo virtual e que se torna vítima do cyberbullying. Acompanhe a seguir a entrevista que Maria Tereza Maldonado concedeu à Direcional Educador.

DIRECIONAL EDUCADOR - Como decidiu começar a escrever livros de ficção para jovens abordando temas relativos à cultura da paz?

MARIA TEREZA MALDONADO - A construção da paz é o núcleo básico do meu trabalho como psicoterapeuta, palestrante e escritora. Considero as três vertentes do trabalho diário da construção da paz: a busca da harmonia consigo mesmo, com os outros e com o ambiente em que vivemos. Com os altos índices de violência e de degradação ambiental que nos atingem é preciso promover uma revolução da consciência que passa pela ética de cuidar bem de nós, dos outros que formam a imensa família humana e da nossa morada planetária. É preciso investir na formação das novas gerações de seres humanos para tornar essa revolução possível. Por isso, decidi escrever para os jovens: nesses livros, elaboro histórias baseadas em fatos reais de experiências bem-sucedidas em várias cidades brasileiras que tive a oportunidade de conhecer. Esses livros estão sendo adotados por um grande número de escolas como leitura recomendada para alunos entre a quinta e a oitava séries. Fico muito feliz quando recebo emails de jovens leitores ou quando converso com grupos de alunos que leram algumas dessas obras. Já publiquei Viver melhor, Redes solidárias, Florestania, Nos passos da dança. O mais recente é A face oculta, que aborda o tema do bullying e do cyberbullying.

A escola está sabendo lidar com a questão do bullying e do cyberbullying?

O bullying sempre aconteceu em todas as escolas: por muito tempo, considerou-se “brincadeira de crianças” e não se deu maior importância para o tema. É semelhante ao que tradicionalmente acontecia na educação dos filhos: os pais se achavam no direito de xingar, espancar e cometer outras formas de violência para “endireitar” as crianças rebeldes. Atualmente, esses casos vão parar nos Conselhos Tutelares como ações de violência intrafamiliar, que precisam ser tratadas para que os pais se conscientizem do direito das crianças de serem educadas sem violência. Com o bullying está começando a acontecer algo idêntico: é preciso trabalhar o conceito de que “agressão não é diversão”. Condutas de perseguição implacável, mensagens difamadoras e depreciativas, agressões físicas ou verbais não são aceitáveis. Quando a tecnologia passou a ser usada como meio de agressão, os efeitos devastadores sobre as vítimas aumentaram significativamente: no cyberbullying, a perseguição implacável por meio do celular, dos sites de relacionamento e dos sites de vídeos pode acontecer sete dias por semana, 24 horas por dia. É desesperador. E as escolas sentem muitas dificuldades de lidar com isso. Algumas já conseguiram estruturar campanhas antibullying envolvendo os alunos, as famílias e toda a equipe escolar, conseguindo bons resultados.

Como o bullying se manifesta?

As expressões mais comuns da agressão são a humilhação, apelidos depreciativos, jogos de poder dos “chefes” e dos “populares”, da turma que submete os colegas, intimidando-os para que obedeçam aos seus comandos sob pena de exclusão do grupo, ameaças de agressão física ou constrangimento moral, mensagens difamatórias ou ofensivas. São ataques maciços à autoestima que, em muitos casos, estimulam na vítima sentimentos de rejeição, dificuldades de inserção no grupo, medo de ir à escola, crises de angústia e estados depressivos.

Qual é o perfil mais comum da vítima e dos agressores?

As vítimas costumam ser crianças e adolescentes inseguras, tímidas, com dificuldades de comunicação; os que se destacam como ótimos alunos, estimulando os ataques por inveja. O perfil mais comum dos agressores: pessoas inseguras, que já foram vítimas de ataques e que têm dificuldades de relacionamento, com pouca empatia; as que desenvolvem capacidade de liderança, utilizada de modo negativo; as sociopatas, manipuladoras, que se divertem causando sofrimento. Muitas vítimas sofrem em silêncio, por medo ou por vergonha de revelar que estão sendo atacadas, o que aumenta o poder do agressor. É importante também o papel das testemunhas: muitas se calam por medo de serem as próximas vítimas. Porém, podem ter um papel fundamental para inibir a ação dos agressores, formando uma rede de proteção.

Uma escola aberta, que ouve as necessidades dos alunos e da comunidade, está menos propensa a viver situações de bullying?

Sem dúvida, em especial as que elaboram os “contratos de convivência”, em que se discute claramente o que é aceitável e o que não é nos relacionamentos que ocorrem no ambiente escolar. Muda-se o conceito: é possível brincar saudavelmente, sem se divertir às custas do sofrimento dos outros. Trabalha- se a empatia, um ingrediente fundamental da inteligência social e colocam-se consequências, tais como reparação dos danos, quando os “acordos de bom convívio” não são respeitados. Essa é a melhor forma de prevenir o bullying. O contrato de convivência coloca regras claras, evita muitos episódios de agressão, mas mesmo assim há os transgressores que gostam de testar os limites para ver se as consequências combinadas realmente acontecerão ou se tudo “acabará em pizza”. Portanto, episódios de bullying acontecerão e precisarão ser abordados. Os acordos de bom convívio podem ser feitos também com crianças pequenas que, com a orientação dos professores, elaboram as “leis da turma” e as consequências cabíveis quando não são cumpridas. Esse é um modo de transmitir na prática do dia a dia do convívio escolar os valores fundamentais: respeito, consideração, gentileza, cooperação. Uma experiência interessante é a das escolas associadas ao Programa de Cultura da Paz da UNESCO (a rede PEA) que utiliza muitos recursos para estimular nas crianças a resolver conflitos de modo não-violento e a canalizar a agressividade para fins construtivos.

E quando a escola constata a violência, como agir?

Dependendo da gravidade do caso, os pais deverão ser chamados. Porém, em muitas circunstâncias, abordar a questão com a turma ou em conversas com agressores e agredidos será suficiente. É importante que o agressor assuma a responsabilidade por seus atos: o mais comum é negar ou colocar a culpa em outros, até mesmo na vítima, acusando-a de tê-lo provocado. Abordar o tema com a turma é importante, especialmente nos casos de apelidos depreciativos e de exclusão, que ocorrem com frequência. São oportunidades de estimular a reflexão: “E se fosse com você?”. A conversa em grupo também é útil para estimular a criação de recursos para lidar com os episódios de bullying, desestimulando o autor a prosseguir com os ataques. No cyberbullying, a questão é mais complexa porque é comum o agressor se esconder no anonimato da rede. É importante esclarecer aos alunos que a prática do cyberbullying é crime passível de punição por meios legais e que é possível descobrir a verdadeira identidade do agressor. liderança e o aumento da empatia, estimulando a ação eficaz das testemunhas. O resultado é a melhoria da qualidade dos relacionamentos e o uso responsável da tecnologia”, diz. Fazer uso da literatura é outro caminho na prevenção à violência.

Fonte: Maria Tereza Maldonado. Mestre em Psicologia Clínica pela PUC-Rio

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