Dicionário, lançado pelo Instituto Oriental da
Universidade de Chicago, tem 21 volumes
Após nove décadas de pesquisas, o dicionário de uma
língua que deixou de ser falada há quase 2 mil anos foi finalmente completado,
com o lançamento de seu último volume.
O dicionário de
assírio – ao lado do babilônico, um dos dois dialetos da língua acádia, falada
na Mesopotâmia antiga – tem 21 volumes e é enciclopédico em alcance.
Volumes inteiros são dedicados a uma única letra, e a
obra traz referências extensivas a fontes originais da língua.
“Este é um momento heroico e significativo na história”,
declarou Irving Finkel, do departamento de Oriente Médio do Museu Britânico e
que nos anos 1970 participou por três anos do projeto The Chicago Assyrian
Dictionary.
O projeto, lançado pelo Instituto Oriental da
Universidade de Chicago em 1921, envolveu quase uma centena de pesquisadores
que catalogaram registros e referências num trabalho que gerou mais de dois
milhões cartões de indexação de registros.
Para o professor Matthew W. Stolper, do Instituto
Oriental, o trabalho de pesquisa para o dicionário era “muitas vezes tedioso”,
mas ao mesmo tempo “fascinante e recompensador”.
“É como olhar por uma janela um momento de milhares de
anos no passado”, disse ele.
Tábuas de argila e pedra
Para a editora do dicionário, Martha Roth, obra mostra
mundo muito familiar.
O dicionário foi compilado por meio do estudo de textos
escritos em tábuas de argila e pedra descobertas na área da antiga Mesopotâmia,
entre os rios Tigre Eufrates, na região onde hoje está o Iraque e partes da
Síria e da Turquia.
Os textos analisados, com assuntos que incluem documentos
científicos, médicos e legais, cartas de amor, literatura e mensagens aos
deuses, compreendem um período de 2.500 anos.
“É uma coisa milagrosa. Podemos agora ler as palavras de
poetas, filósofos, mágicos e astrônomos como se eles estivessem nos escrevendo
em inglês”, afirma Finkel.
“Quando começaram a escavar no Iraque em 1850,
encontraram muitas inscrições no solo e em paredes dos palácios, mas ninguém
podia entender uma palavra daquilo, porque a língua estava extinta”, observa.
Para a editora do dicionário, Martha Roth, o mais
impressionante no estudo não foram as diferenças, mas as semelhanças entre
aquela época e hoje.
“Em vez de encontrar um mundo estranho, encontramos um
mundo muito familiar”, diz ela, sobre os textos de pessoas preocupadas com suas
relações pessoais, com amor, emoções, poder e questões práticas como irrigação
e uso da terra.
Avanço da civilização
Mesopotâmia é apontada como um dos 3 ou 4 lugares do
mundo onde a escrita apareceu Gregos, romanos e egípcios são muito mais
proeminentes tanto na consciência popular quanto nos currículos acadêmicos hoje
em dia.
Mas no século 19, era a Mesopotâmia que fascinava os
estudiosos – em parte porque os pesquisadores tentavam descobrir provas para
algumas das histórias Bíblia, mas também por causa do avanço daquela
civilização.
"Muito da história de como as pessoas deixaram de ser
apenas humanos para ser civilizados aconteceu na Mesopotâmia", diz Stolper.
Vários grandes avanços teriam tido lá sua origem e a
Mesopotâmia é apontada como um dos três ou quatro lugares no mundo onde a
escrita apareceu.
Segundo Finkel, a escrita cuneiforme, usada tanto no
dialeto assírio quanto no babilônico, foi usada pela primeira vez pela língua
suméria e teria sido uma inspiração para os hieróglifos egípcios.
Obra em andamento
Apesar da grandiosidade do projeto, os pesquisadores
envolvidos no dicionário fazem questão de enfatizar suas limitações.
Eles ainda desconhecem o significado de muitas palavras e
dizem que a publicação permanecerá como uma obra em andamento conforme novas
descobertas forem sendo feitas.
O dicionário inteiro foi colocado à venda por US$ 1.995
(cerca de R$ 3.175), mas também foi disponibilizado de graça em uma versão
online.
Fonte: BBC Brasil - Cultura & Entretenimento
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