A Marinha do Brasil vai ter ao menos
dois Navios de Múltiplos Propósitos, um conceito novo de navio autossuficiente.
Cada um desses gigantes, grandes como dois campos de futebol e feitos para
projetar poder naval, leva uma força completa de intervenção: soldados,
tanques, helicópteros, lanchas, mísseis e hospital, mais um sofisticado centro
de inteligência.
Cada unidade, de alta tecnologia,
custa hoje entre US$ 600 milhões e US$ 750 milhões, no mercado internacional. É
um programa ambicioso, contemplado no Plano de Articulação e Equipamento da
Marinha (Paemb), ainda sem prazo definido. Em nota, o comandante da Força, Almirante Júlio Moura Neto, disse que "o processo de aquisição depende da
disponibilidade de recursos orçamentários, não tendo sido ainda selecionado um
projeto específico".
Os dois fornecedores mais importantes
são os Estados Unidos, que mantêm uma frota variada de oito navios, e a França,
que desenvolveu uma versão avançada, a classe Mistral. O governo da Rússia quer
comprar quatro exemplares.
Embora apresentado como um lançador de
ataques anfíbios, o conceito de múltiplo emprego aumenta a eficiência das
operações de mobilização e deslocamento rápidos. Os meios devem permitir o
lançamento acelerado de 900 a 1.400 combatentes, 280 veículos e 30
helicópteros, em cenários distantes até 5 mil quilômetros. O contingente e seus
recursos precisam ter capacidade de atuar sem novo apoio por dez dias, em
posições avançadas, a 100 quilômetros do local de desembarque. A principal
alteração em relação ao esquema tradicional das ações anfíbias é a integração
em um único centro embarcado.
Navio Multi-propósito Anfíbio de
fabricação francesa da classe Mistral
Em missão, o supernavio exige
cobertura aérea permanente por meio de aviões de caça, sob coordenação de uma
aeronave de vigilância e alerta antecipado. No mar, uma flotilha de escolta
cuida da proteção.
O Navio de Múltiplos Propósitos é
virtualmente autônomo. Além dos helicópteros, de dúzias de tanques, blindados
sobre rodas, lanchas de desembarque de tropas e centenas de soldados, abriga um
hospital com capacidade para executar cirurgias de grande complexidade. Na
ponte principal, alta como um prédio de 15 andares, funciona uma sofisticada
sala de situação com enlace eletrônico por satélite, de onde são tomadas as
decisões de comando e processadas as informações de inteligência.
Frota de superfície. A prioridade de
médio prazo da Marinha é, todavia, a renovação da frota de superfície. O
ProSuper, nome do programa, compreende 11 navios, com investimentos estimados
entre US$ 4 bilhões e US$ 6 bilhões. A fase atual é de consultas a empresas
candidatas à parceria pretendida. Estão sobre a mesa de negociações ofertas da
Itália, Reino Unido, Alemanha, Coreia e França. Esse primeiro estágio, com a
escolha da parceria, pode sair até o fim do ano.
A primeira fragata ficará pronta entre
2018 e 2019 - a entrega do navio-patrulha ocorre 12 meses antes. Depois da
seleção, a complexidade do processo exigirá um ano de discussões para ajuste da
transferência de tecnologia, estabelecimento da rede de fornecedores e das
compensações comerciais.
Plano completo. Há um ano, a Marinha
apresentou aos empresários do setor um plano completo, abrangendo 61 navios de
superfície, mais cinco submarinos, quatro de propulsão diesel-elétrica e um
movido a energia nuclear. O horizonte dessas encomendas vai até 2030.
O pacote prioritário, definido como
ProSuper, abrange cinco fragatas de 6 mil toneladas com capacidade stealth, de
escapar à detecção eletrônica, quatro navios-patrulha oceânicos, de 1,8 mil
toneladas, e um navio de apoio, de 22 mil toneladas, para transporte e
transferência em alto mar de todo tipo de suprimentos.
A intenção da Marinha é que apenas a
primeira fragata e o primeiro patrulheiro sejam construídos fora do País,
embora com acompanhamento de técnicos e engenheiros brasileiros. Há grupos
diretamente interessados em participar desse empreendimento. A Odebrecht Defesa
e Tecnologia prepara os estaleiros da Enseada do Paraguaçu, na região
metropolitana de Salvador, para disputar o ProSuper. A empresa, associada à
francesa DCNS, está construindo em Itaguaí, no Rio, uma nova base naval e mais
as instalações industriais de onde sairão os cinco submarinos do Prosub,
encomendados por 6,7 bilhões. Os quatro primeiros, da classe Scorpéne, terão
propulsão diesel-elétrica. O quinto será o primeiro, de um lote de seis
unidades movidas a energia nuclear, que a Marinha quer produzir até 2047.
PARA ENTENDER
O programa de reequipamento e
reorganização da Defesa contempla Forças Armadas ágeis, especializadas e
preparadas para cumprir missões expedicionárias. Nesse sentido, o advento dos
Navios de Múltiplos Propósitos dá substância à teoria por meio de uma estrutura
operacional que permite a mobilização rápida de um considerável contingente de
combatentes, cerca de 900 militares, com acesso a helicópteros, tanques,
lanchas e, sobretudo, a informações de inteligência, processadas a bordo.
Fonte: Roberto Godoy - O Estado de S.Paulo
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