Além do Distrito Federal, pelo menos três estados confirmaram casos de infeção pela Klebsiella pneumoniae carbapenemase (KPC). Os casos de São Paulo e do Paraná haviam sido anunciados pelo ministro da Saúde, José Gomes Temporão, na terça-feira. Ontem, a Secretaria de Saúde da Paraíba confirmou a contaminação de 18 pacientes, sendo 11 deles neste ano. Apesar de negarem a existência de infecções pela superbactéria, os governos de Minas Gerais e do Rio Grande do Sul decretaram estado de alerta e adotaram medidas de prevenção nas unidades hospitalares.
O surto de infecção pela superbactéria no Distrito Federal e a comprovação de que ela está presente em outras unidades da federação levaram a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) a reunir hoje, especialistas em infectologia e microbiologia para traçar medidas de contenção do surto, prevenção, fluxos de notificação dos casos, diagnósticos e métodos de identificação laboratorial. Paralelamente, os diretores da agência vão discutir a proposta de restrição da venda de antibióticos, tema sob consulta pública desde julho.
O uso indiscriminado de antibióticos fora e dentro dos hospitais é apontado por especialistas — e foi citado pelo ministro da Saúde José Gomes Temporão — como uma das causas para o surgimento de superbactérias como a KPC. Durante lançamento do programa Aqui tem Farmácia Popular, em Brasília, na última quarta-feira, o ministro voltou a dizer que é preciso combater o uso “indiscriminado” de antibióticos, o que facilita, segundo ele, o surgimento de bactérias resistentes ao medicamento.
Em menos de duas semanas, o número de pessoas infectadas pela bactéria KPC no DF saltou de 108 para 183, um aumento de 69,4%. Apesar da crescente quantidade de casos e de mortes provocadas pelo micro-organismo — eram 14 no dia 8 e, agora, são 18 —, a secretária de Saúde do DF, Fabíola Nunes, garante não haver motivo para pânico. “O aumento das estatísticas é um reflexo da nossa determinação para que todos os casos sejam notificados. Talvez no DF se tenha mais casos porque aqui está se dando mais atenção. Quando se monta um sistema de vigilância epidemiológica, como nós fizemos, os dados aparecem”, explicou a secretária.
Sem medo
Na tarde de ontem, Fabíola Nunes disse que a população não precisa evitar a assistência hospitalar por medo de contrair a bactéria. “Se a pessoa está politraumatizada, tem um infarto, vai para o hospital ou morre. Lá tem o risco de contrair a KPC e outras bactérias. Sempre teve, não é de agora”, esclareceu. A secretária acrescentou que, para evitar riscos de novas infecções por KPC, está em curso a “tolerância zero” a práticas inadequadas por parte de profissionais de saúde e também de pacientes, acompanhantes e visitantes.
Para evitar novas infecções, os funcionários de saúde estão orientados a lavar a mão sempre antes e após examinar cada um dos pacientes. Quando um procedimento exigir corte, furo ou qualquer lesão, é preciso limpar bem a pele que, naturalmente, está coberta por bactérias e impurezas. Cateteres, sondas, bolsas de colostomia, respiradores, entre outros, devem ser trocados com maior frequência. É importante ressaltar que medidas como essas devem ser rotina nos hospitais mas não ocorrem com rigor no dia a dia.
Os servidores estão sendo treinados para enfrentar o surto. As equipes que trabalham à noite estão merecendo maior atenção das comissões de controle de infecção hospitalar no sentido de informar sobre os cuidados e cobrar que todas as medidas de segurança sejam adotadas. “Uma pesquisa em hospitais de São Paulo revelou que no período noturno os profissionais tendem a lavar menos as mãos e a tomar menos precaução. Mas a bactéria não escolhe a hora para infectar um paciente ou o próprio profissional”, alertou Fabíola Nunes.
Mãos limpas
Ao entrar no hospital, se acompanhante ou visitante de doentes, lave as mãos com água e sabão e, em seguida, passe álcool. Se tocar no paciente, repita imediatamente o procedimento. Evite contato físico com outros doentes e, se houver, não se esqueça de higienizar as mãos. Evite tocar em macas, mesas de cabeceira e equipamentos hospitalares. Havendo contato, lave as mãos antes de encostar de novo no doente.
DESABASTECIMENTO
» A rede de saúde do DF enfrenta um grave problema de desabastecimento. O Tribunal de Contas do DF suspendeu os 72 pregões organizados pela Secretaria de Saúde porque encontrou falhas no processo. Enquanto a pendência não é resolvida, o governo determinou que seja feita a compra emergencial de todos os medicamentos e insumos necessários ao combate e à prevenção da KPC. A lista tem cerca de 100 itens e inclui desde álcool a 70% até cateter, seringa, bolsas de colostomia, capotes, luvas, entre outros. Parte do material chegou ontem, no fim do dia, e a outra será entregue hoje, conforme assegurou o médico Herbert Teixeira Cavalcanti, titular da Secretaria Extraordinária de Infraestrutura e Logística de Saúde.
CONTROLE DE ANTIBIÓTICOS
A Resolução da Diretoria Colegiada da Anvisa traz propostas para restringir o uso de antibióticos no país. Veja algumas delas:
» A compra, venda ou a devolução deve ser acompanhada de nota fiscal. O nome, o número do lote e o fabricante do produto devem vir discriminados na nota fiscal de compra.
» A venda só pode ser feita em farmácias e drogarias, mediante apresentação da receita médica em duas vias, sendo que a primeira fica retida no estabelecimento.
» A prescrição de antibióticos deve ser escrita de forma legível, a quantidade especificada em algarismos arábicos e escrita também por extenso, sem emenda ou rasura. A receita tem validade de 30 dias a contar da data da emissão.
Fonte: http://www.correiobraziliense.com.br
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