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quinta-feira, 7 de outubro de 2010

Vargas Llosa, o senhor da palavra e grande renovador da narrativa em espanhol


A Mario Vargas Llosa, agraciado com o Nobel de Literatura, deve-se chamar com toda propriedade de "o senhor da palavra". Grande renovador da narrativa em espanhol, seus romance seduziram milhões de pessoas no mundo, talvez porque sua grande ambição foi sempre a de "contar uma história bem contada".

O Prêmio Nobel, para o qual Vargas Llosa aparecia como candidato havia anos, serviu hoje para reconhecer de forma definitiva uma trajetória que começou a ser vislumbrada nos anos 60 com obras como "A cidade e os cachorros", "A casa verde" e a "Conversa na catedral".

Depois viriam inúmeros romances, entre estes "A guerra do fim do mundo", "O falador", "A festa do bode", "O paraíso na outra esquina" e "Travessuras de uma menina má", que o consagrariam como um dos grandes escritores latino-americanos, mas também do restante do mundo, e que o fariam merecedor de inúmeros prêmios.

Com a "A cidade e os cachorros" levou o Prêmio Biblioteca Breve e o da Crítica espanhola, esta última distinção que depois recairia em "A casa verde", o grande romance de Vargas Llosa que foi agraciado com o Nacional de Novela do Peru e o Rómulo Gallegos (prêmio).

Seus grandes dotes como romancista, ensaísta, articulista e autor teatral foram reconhecidos com prêmios de tanta importância como o Príncipe de Astúrias, o Cervantes (1994) e o Internacional Menéndez Pelayo.

Grande admirador de Víctor Hugo e de Gustave Flaubert, Vargas Llosa sempre achou que a literatura "é uma expressão maravilhosa da liberdade humana" e "ajuda a viver". Por essa razão o escritor "não pode retirar certa responsabilidade, seja moral, social ou política.

Com essas palavras Vargas Llosa expressava sua concepção sobre a literatura durante em um discurso que fez na Fundação Santillana, na Cantábria (norte da Espanha), há dois anos, e nas quais dizia que os bons romances servem para descobrir "tudo aquilo que quisemos ser e que inventamos para vivê-lo de mentira".

"Por isso, a literatura é a grande acusação, a grande requisitória; e é uma demonstração permanente dessa atitude crítica que foi o motor do progresso e da civilização", afirmava naquela ocasião o escritor.

A leitura de Faulkner foi fundamental para ele nos 50, mas ler "Madame Bovary" mudou a vida como escritor. Vargas Llosa sempre admirou "a perseverança" de Gustave Flaubert para obter obras-primas, uma perseverança que sem dúvida o escritor peruano aplica sempre na hora de tentar para que cada um de seus livros seja melhor do que o anterior, mais audaz do ponto de vista literário.

Seus romances partem da realidade, mas, depois, o espaço e o tempo em que transcorrem "se transformam em uma ficção", se emancipam do mundo real e cobram autonomia. Nesse ponto reside "o poder de persuasão" de suas obras, segundo dizia à Agência Efe Víctor García de la Concha, diretor do Real Academia Espanhola e grande especialista em literatura.

Escritor comprometido com o mundo em que vive, Vargas Llosa refletiu sua preocupação com o universo hispano nas Américas em romances como "A festa do bode", na qual recria de forma magistral as três décadas da ditadura dominicana do general Trujillo.

E esse compromisso vital aflora com frequência em seus inúmeros artigos, em seus discursos públicos e em suas declarações à imprensa.

Nunca se esquiva para falar de política e dizer o que pensa com clareza, embora nem sempre suas opiniões sejam bem recebidas.

Nos últimos anos, criticou com frequência a influência da Venezuela e de Hugo Chávez no resto da América Latina. O "socialismo autoritário" do presidente venezuelano "é um grande perigo" para essa região do mundo e para o qual não deseja que haja "um retrocesso em direção a formas ditatoriais".

E sobre Cuba, o escritor peruano costuma afirmar que, enquanto Fidel Castro viver, as mudanças que possa ter nesse país "não serão fundamentais".

Vargas Llosa documenta de maneira exaustiva cada um de seus romances. Passa meses nas melhores bibliotecas do mundo e viaja para onde for necessário para conhecer os cenários nos quais vai situar suas histórias. E nem sempre essas viagens são seguras e confortáveis.

Para preparar seu romance, "O sonho do celta", que em 3 de novembro Alfaguara publicará em todo o âmbito hispânico, Vargas Llosa viajou ao Congo porque ali transcorreu parte da vida do protagonista deste novo livro, o irlandês sir Roger Casement.

Casement foi cônsul britânico no Congo no início do século 20 e amigo do escritor Joseph Conrad, que foi quem abriu os olhos sobre as atrocidades cometidas naquele país africano quando este era propriedade de Leopoldo II, rei dos belgas.

Será em 1º de novembro que os leitores comprovarão novamente a capacidade de sedução de Vargas Llosa e sua mestria de sua literatura.

Fonte: http://noticias.terra.com.br

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