O Brasil, oitava maior economia do mundo, empata com o Zimbábue quando se compara a escolaridade média - 7,2 anos - das pessoas com 25 anos ou mais. Há 30 anos sob uma ditadura, devastado pela violência e com uma taxa astronômica de inflação, o país africano aparece no último lugar, numa lista de 169 países classificados com base no Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), elaborado pela Organização das Nações Unidas (ONU). No 73.º posto, o Brasil avançou quatro posições desde o ano passado, ingressando no grupo das nações consideradas com IDH elevado. Mas essa mudança é insuficiente. O País continua a exibir péssimos indicadores de educação e saneamento, condições essenciais para o progresso individual e para a formação de um capital humano de alta qualidade. São condições essenciais para a consolidação de qualquer país como potência econômica, isto é, como economia moderna, competitiva e capaz de fazer diferença no quadro mundial.
O Ministério da Educação, como era previsível, tentou desqualificar a pesquisa, criticando seus métodos e critérios. Quando se levam em conta as pessoas com idade igual ou superior a 25 anos, os países em desenvolvimento são condenados a uma classificação desfavorável, segundo nota do Ministério. A alegação tem algum fundamento. De fato, os progressos na educação tendem a beneficiar principalmente as populações mais jovens, especialmente quando a pirâmide etária tem base muito larga. Esse é o caso da maior parte dos países pobres e em desenvolvimento. Mas o argumento perde força, quando se compara a posição do Brasil com a de vários outros emergentes: com o mesmo critério, o País aparece em posição pior que a média dos latino-americanos. Quando a comparação envolve os tigres da Ásia, como a Coreia do Sul e Taiwan, a desvantagem brasileira é mais evidente.
O quadro não melhora muito, quando se examinam levantamentos do IBGE, com números organizados de acordo com critérios aceitos oficialmente no Brasil. Segundo os últimos dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios, cerca de 20% dos brasileiros com idade igual ou superior a 15 anos são analfabetos funcionais, incapazes de interpretar um texto curto e simples. São desqualificados para a maior parte dos trabalhos numa economia moderna. Mesmo as atividades tradicionalmente acessíveis a pessoas com pouca educação passaram a demandar mão de obra mais preparada. É o caso da construção civil.
As limitações brasileiras são bem conhecidas. Desde os anos 90 conseguiu-se universalizar o acesso ao ensino fundamental. O trabalho de inclusão de crianças nos primeiros anos de escola completou-se, ou quase, nos últimos dez anos. Mas a permanência na escola é muito limitada, apesar do progresso observado. Entre 2004 e 2009, a proporção de pessoas com pelo menos 11 anos de estudos aumentou de 25,9% para 33%. A parcela da população ocupada com pelo menos o ensino médio completo aumentou de 33,6% para 44,1% nesse período. A mudança poderia ter sido muito mais ampla, se o governo tivesse dado mais importância à educação fundamental e menos ao objetivo - em grande parte demagógico - de alargar as portas de acesso a faculdades.
A melhora educacional foi insuficiente, tanto em termos numéricos quanto de qualidade. As empresas têm dificuldade crescente para encontrar o pessoal necessário e houve nos últimos anos importação de mão de obra. Até há pouco tempo, a oferta de pessoal qualificado foi pelo menos suficiente para a construção de uma das maiores economias do mundo. Uma ampla parcela da população ficou para trás, com possibilidades muito menores de trabalhar produtivamente. Uma fração desses trabalhadores conseguiu ganhar dinheiro em serviços de baixa qualificação. Uma grande economia não pode depender desse tipo de atividade, frequentemente informal e até ilegal, para absorver a grande massa de mão de obra. Não se trata só de criar oportunidades, um objetivo prioritário de qualquer sociedade justa, mas também de ganhar eficiência e competitividade - uma condição para continuar crescendo e proporcionando empregos.
Fonte: http://www.estadao.com.br
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