SÃO PAULO - Já chega a 2,9 mil o número de cabeças de gado que morreram por causa do frio em fazendas de Mato Grosso do Sul desde a sexta-feira passada. De acordo com a Agência Estadual de Defesa Sanitária Animal e Vegetal (Iagro), o prejuízo dos pecuaristas ultrapassa os R$ 3 milhões. Ao todo, 15 municípios sul-matogrossenses registraram mortes por causa da hipotermia, quando a temperatura do corpo do gado fica bem abaixo do normal. Em pouco mais de 4 horas, a temperatura despencou cerca de 20 graus.
- Foi na tarde da última sexta-feira. Em cerca de 4 horas, houve uma grande inversão térmica: a temperatura caiu de 30 graus para 10. À noite, começou a ventar e a chover e a temperatura caiu ainda mais, para apenas 3 graus. Só que a com a garoa e o vento, a sensação térmica chegou a 3 graus abaixo de zero e o gado não resistiu - conta a médica veterinária Maria Cristina Galvão Carrijo, diretora-presidente da Iagro.
Segundo Maria Cristina, as regiões mais afetadas foram o Sul do estado e as áreas de fronteira como Ponta Porã e Caarapó, onde morreram cerca de mil cabeças.
- As mortes foram registradas em fazendas diferentes, em regiões descampadas, onde não há uma maior proteção natural para os animais como cobertura de árvore e mato. Por isso, os bovinos não têm como se proteger e, com a chuva, o frio e o vento, morrem mesmo de hipotermia - afirmou.
A maior parte da mortes se deu em vacas que haviam acabado de parir e em bezerros em fase de desmama - todos animais magros.
- Quanto maior a capa de gordura do bovino, maior a reserva de energia e melhor o isolamento térmico, mantendo assim a temperatura corporal - garante o médico veterinário Enrico Ortolani, vice-diretor da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP.
Segundo Ortolani, outra característica que contribui para a mortandade é que os animais, em sua maioria, eram da raça Nelore, originária de regiões de calor da Índia.
- O Nelore é um animal adaptado para o calor. A seleção natural o capacitou a viver em bem-estar em uma temperatura relativamente quente. Não no frio - assegura.
- O pelo mais curto e a pele fina, características da raça, aquecem menos e deixam os bovinos Nelore menos resistentes ao frio - conta o zootecnista Renato Villela.
Villela afirma que a carne dos animais mortos jamais deve ser consumida e orienta aos pecuaristas que queimem as carcaças e, em seguida, enterrem os restos dos animais em lugares altos e longe de nascentes de rios.
- O ideal é incinerar os restos das carcaças, porque enterrar direto pode contaminar o lençol freático e animais como o tatu podem mexer nos restos e transmitir o botulismo às boiadas das fazendas - recomenda.
Segundo Maria Cristina, os técnicos da agência estão percorrendo as fazendas para orientar os criadores sobre todos os procedimentos que devem ser tomados.
Não é a primeira vez que uma boiada morre de frio em Mato Grosso do Sul, cujo plantel chega atualmente a 21 milhões de cabeças. Também há registro da morte de centenas de animais por baixas temperaturas nos anos de 1975, 1977 e 1979.
Fonte: http://oglobo.globo.com
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