Publicado em 27 de agosto de 2009 - Ouvimos com frequência, nos meios de comunicação, que o Brasil irá integrar um seleto grupo de países que terão trem de alta velocidade, como se isto fosse apenas um marco para identificar o nosso País como aspirante ao primeiro mundo, ou apenas uma necessidade para a Copa do Mundo de 2014. Na verdade, este tipo de transporte vai muito além de um marco ou de uma copa. É uma questão vital para a mobilidade entre as grandes cidades brasileiras.
Se levantarmos a história, observamos que em 1933 já existiam trens na Europa e nos Estados Unidos que trafegavam a 130 km/h . Em 1939, o ERT 200 já fazia Milão-Florença a 165 km/h . O primeiro trem a trafegar acima dos 200 km/h , no conceito de trem-bala, foi o Shinkansen japonês em 1964 e, na Europa, o TGV entre Paris e Lyon em 1981. Estamos em 2009, século XXI, e vemos quanto tempo já perdemos em termos de transporte ferroviário rápido e eficiente: no mínimo 30 anos.
O primeiro TAV (trem de alta velocidade) brasileiro irá interligar a cidade de Campinas ao Rio de Janeiro, passando por São Paulo, São José dos Campos, Volta Redonda e os aeroportos de Viracopos, Cumbica e Galeão. Para termos uma ideia da eficiência e rapidez deste tipo de transporte, a viagem entre Rio e São Paulo levará uma hora e 33 minutos no serviço expresso (sem paradas), duas horas e 33 minutos de Campinas ao Rio com paradas em todas as estações e uma hora e 4 minutos entre Campinas e São José dos Campos.
Com estes números, é possível imaginar quantos carros e ônibus serão retirados das estradas, visto que cada trem expresso terá lugar para 458 passageiros, e o trem parador 600 passageiros, com intervalos de 20 e 10 minutos, respectivamente, no horário normal e de pico, segundo a ANTT (Agência Nacional de Transportes Terrestres).
Atualmente, o trânsito nas grandes cidades é caótico, principalmente em São Paulo , onde muitos já preveem o dia em que a capital paulista irá parar. Para esta situação, a única saída é o transporte sobre trilhos, incluindo os trens de alta velocidade, que em comparação aos outros meios de transporte de média distância (até 1000 km ) se mostra mais vantajoso.
Comparando com o transporte aéreo, temos a questão da distância dos aeroportos, que são, normalmente, distantes dos centros das cidades, cerca de 40 minutos sem tráfego, enquanto as estações ferroviárias estão no centro. Quanto ao embarque, um Boeing 747 com capacidade para 400 passageiros tem duas portas de embarque, com 200 passageiros por porta, já o Eurostar (trem de alta velocidade Londres-Paris) tem capacidade de 800 passageiros e 18 portas, ou seja, 45 passageiros por porta, permitindo o embarque em poucos minutos. As condições climáticas são outra desvantagem para o modal aéreo; nas ferrovias, sua influência é muito pequena.
Na comparação com o automóvel, estudos apontam que na Inglaterra uma linha de trem de alta velocidade transporta em média 12 mil passageiros por hora (Eurostar), enquanto uma autoestrada com três pistas transporta 2.250 passageiros por hora. No entanto, quem mais ganha, sem dúvida, é o meio ambiente, pois o trem elétrico não gera emissão de CO2, enquanto os carros, ônibus e aviões são dependentes de combustível, que emitem o gás.
A única maneira de melhorar o trânsito nas grandes cidades e rodovias é deixar o carro em casa, porém, isso só acontecerá quando a população tiver certeza que pode contar com um meio de transporte rápido, eficiente, confortável, seguro e pontual. O TAV engloba todas as condições para que haja uma revolução no transporte de passageiros no Brasil.
Sem dúvida, a resposta para o título deste artigo é que o TAV é necessário para que o Brasil comece a resolver o transporte de passageiros por ferrovias de alta tecnologia, diferente de tudo que o nosso País já experimentou em termos de transporte coletivo de média e longa distância. A questão também será respondida por especialistas na área, que participarão do painel do Comitê Ferroviário, que será realizado no dia 7 de outubro, em São Paulo , durante o Congresso SAE BRASIL 2009. Não podemos perder mais 30 anos e privar o nosso País e as grandes cidades brasileiras de um transporte rápido e eficiente.
Fonte: Domingos J. Minicucci é vice-diretor do Comitê Ferroviário do Congresso SAE
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