Enquete realizada pelo GLOBO no início da campanha eleitoral identificou a Educação como prioridade e principal desafio do próximo presidente do Brasil. Entre os 2.380 eleitores que opinaram sobre os grandes problemas brasileiros, 57% acham a questão crucial para o futuro do país. Segurança (16%), Saúde (14%), Trabalho, Emprego e Renda (12%) e Cultura (1%) completaram a lista de necessidades. ( Confira as propostas dos presidenciáveis para a Educação )
O ambiente especial de Eleições 2010 publicará toda a terça-feira, nas próximas semanas, um panorama sobre os temas mais votados (Educação, Segurança e Saúde) e apresentará as propostas dos presidenciáveis Dilma Rousseff (PT), José Serra (PSDB) e Marina Silva (PV) até esse momento da corrida eleitoral.
Analfabetismo e violência ainda são desafios
Não faltam ao Brasil metas para melhorar o ensino. O Índice de Desenvolvimento da Educação (IDEB), principal indicador da qualidade da educação, que leva em conta o rendimento escolar nos anos iniciais e finais do Ensino Fundamental e também no Ensino Médio, estabelece que, numa escala de 0 a 10, o país chegue a 2021 com média 6 nas escolas de 1ª à 4ª série. Em 2009, o índice não passou de 4,6.
Candidatos ao Planalto, Serra, Dilma e Marina também já traçaram suas metas. Universalizar a alfabetização, investir nos cursos técnicos, aumentar o percentual do PIB, construir creches e apostar em educação integral são algumas das promessas. Mas o fato é: o investimento público em educação não ultrapassou 4,7% do PIB em 2008, segundo dados do Ministério da Educação (MEC). No ensino superior, em 2000, também de acordo com o MEC, eram investidos R$ 15.341 por aluno/ano. Em 2008, o número havia caído para R$ 14.763.
Além de estabelecer metas, nos últimos anos o Brasil passou a contar com vários mecanismos para medir a qualidade do que os alunos aprendem em sala de aula: Prova Brasil, que avalia a cada dois anos os estudantes da 4ª e da 8ª séries (5º e 9º ano), o Ideb, a Provinha Brasil, que avalia as crianças do 2º ano, e o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem), que além de medir o nível dos alunos do ensino médio serve como critério de seleção para mais de 500 universidades. No entanto, os resultados causam alarde. No Enem de 2009, 97,8% das quase sete mil escolas que tiveram média abaixo de 500 - a escala vai de 0 a 1.000 - eram estaduais. Problemas como crianças fora das salas de aula, escolas com pouca ou quase nenhuma infra-estrutura e déficit de professores também preocupam.
Velhos fantasmas do sistema educacional público, como o analfabetismo e o déficit de professores no Ensino Básico, ainda podem assombrar o futuro presidente da República na próxima gestão. A violência urbana e falta de investimentos no setor tornam ainda mais precária a Educação do país, apontada por especialistas como um dos principais freios do crescimento nacional.
O principal problema apontado pelos especialistas é o analfabetismo. Segundo informações do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um estudo realizado em 2007 revelou que o número de analfabetos do país chega a 14,4 milhões.
Não podemos pensar em crescimento do país com um número tão grande de analfabetos. São pessoas que ainda não foram incluídas socialmente no país - disse o presidente do Conselho Nacional de Trabalhadores em Educação (CNTE), professor Roberto Leão. Ele ressaltou que, além daqueles que nunca tiveram acesso a uma carteira escolar, existem os chamados analfabetos funcionais, que chegam a cursar alguns anos do ensino fundamental e médio, mas saem dos colégios, muitas vezes, só sabendo assinar o próprio nome.
- Este poderá ser o principal desafio do presidente, já que o analfabetismo é um problema que outros presidentes tentaram em vão resolver. Seria importante que o futuro governo desenvolvesse um sistema de educação articulada. Digo articulada porque envolveria os diversos sistemas educacionais que existem. Resumindo, o ensino do Norte do país seria o mesmo do Sudeste, claro, respeitando as diferenças culturais - ressalta Leão.
Violência ameaça professores e provoca evasão escolar
Outro problema da educação pública é a violência urbana. Em vários estados, como o Rio de Janeiro, escolas que ficam localizadas em comunidades comandadas pelo tráfico de drogas ou grupos paramilitares (milícias) ficam dias, até semanas sem aula por conta dos frequentes tiroteios entre policiais e criminosos.
Nestes confrontos, muitas vezes os inocentes acabam sendo as vítimas, como na semana passada, quando um menino de 11 anos, aluno de um Ciep, foi atingido por uma bala perdida durante um confronto entre policiais militares e traficantes. Em abril deste ano, dois assaltantes invadiram uma escola de educação infantil no bairro do Brás, zona central de São Paulo, e mantiveram professoras reféns .
- Cerca de 200 escolas no Rio sofrem influência direta ou indireta do tráfico de drogas ou de grupos de milicianos. As escolas ficam expostas a tiroteios nas comunidades. Muitos alunos ficam dias sem aula, e não tem como repor. Na Zona Oeste do Rio, por exemplo, os milicianos ditam as regras, como as matrículas, onde somente alunos de uma determinada região podem estudar em uma instituição pública localizada no seu território - explica o coordenador geral do Sindicato dos Profissionais em Educação do Rio (Sepe), Danilo Serafim.
Além dos confrontos, a violência prejudica ainda mais a educação quando começa influenciar os alunos, como explicou Serafim: - Recentemente tivemos o caso de um aluno que quebrou o dedo de uma professora porque ela quis que ele tirasse o fone de ouvido durante a aula. Isso é reflexo da violência que estes jovens estão submetidos diariamente. Além disso, essa influência faz com que o aluno desista de estudar, porque vê nas ruas mais perspectivas de vida do que na escola.
Déficit de professores chega a 250 mil no país
Por causa dos baixos salários e da falta de infraestrutura da rede pública de educação, a profissão de professor tem se tornado a última escolha daqueles que acabam de terminar a faculdade. Isso tem provocado um déficit de aproximadamente 250 mil profissionais nos ensinos Médio e Fundamental, segundo alerta a CNTE. Isso prejudica significativamente o aprendizado de cerca de 52 milhões de alunos do Ensino Básico público, de acordo com informações do Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (Inep).
- Grande parte deste déficit é de professores de matemática, física, química e biologia. Quando o jovem termina a faculdade, ele prefere trabalhar em outras áreas do que ser professor. Precisamos urgentemente valorizar esta profissão (professor), porque a tendência é que este déficit aumente - disse Roberto Leão.
Além dos baixos salários e da violência, os professores também se deparam com as péssimas condições de infraestrutura das escolas públicas. - Muitas delas não têm biblioteca, laboratório, não tem nada. Assim fica difícil estimular o aluno a estudar, ou melhor, a gostar de estudar - revela Leão.
Investimento de 10% do PIB em educação
Outra questão apontada pelos especialistas como um dos obstáculos da educação nacional é a ampliação do financiamento público. Atualmente, cerca de 4,5% do Produto Interno Bruto (PIB) do país é aplicado no sistema educacional, as entidades do setor defendem que este percentual deveria ser de, no mínimo, 10%.
- O aumento do percentual do PIB é importante porque isso significa mais verba para investir no aluno. Quando se aumenta o investimento, saímos da situação de estrangulamento e passamos a trabalhar com um panorama de crescimento - disse Marina Barbosa, presidente do Sindicato Nacional dos Docentes das Instituições de Ensino Superior (Andes).
Segundo Marina, a insuficiência desse financiamento nas duas últimas décadas tem possibilitado a expansão massiva da oferta de vagas pelo setor privado (responsável hoje por cerca de 80% das matrículas do nível superior).
- O que acontece não é só o sucateamento do ensino público, e sim um conjunto de ações que favorece o setor privado. Por exemplo, o Enem, declarado como um elemento de democratização pelo governo federal, permite que o aluno ingresse na rede particular de ensino, mas, na verdade, quando a instituição oferece estas vagas, ela consegue isenção de vários impostos. Seria melhor o governo arrecadar estes impostos e ampliar as vagas na rede pública - disse.
Fonte: http://oglobo.globo.com
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