Evento conta com presença da presidente eleita Dilma Rousseff, do presidente do Senado, José Sarney, e até do ex-ministro José Dirceu, afastado por envolvimento no mensalão
Ao lado da presidente eleita, Dilma Rousseff, e do presidente do Senado, José Sarney, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva registrou em cartório, na manhã desta quarta-feira, o balanço das ações de seu governo desde 2003. Nos seis livros que compõem o documento, preparados pela equipe de Franklin Martins na Secom (Secretaria de Comunicação da Presidência da República), o governo lembra programas criados, obras realizadas e medidas adotadas durante os dois mandatos. "Essa prestação de contas é menos para engrandecer o que fizemos e mais para dar uma fotografia à sociedade brasileira, para saber o que foi feito, o que não foi feito e o que precisa ser feito", disse ele.
No discurso de balanço, em que lembrou feitos do governo, Lula evitou qualquer menção a casos de corrupção que ocorreram ao longo dos oito anos de governo, apesar de um dos cadernos registrados em cartório ter por tema "Gestão do estado e combate à corrupção". O documento lista as medidas adotadas nos últimos oito anos para combater desvios, como a criação da CGU (Controladoria Geral da União), o reaparelhamento da Polícia Federal e o endurecimento da legislação contra a lavagem de dinheiro.
Os escândalos foram esquecidos também na hora de montar a lista de convidados para o evento, realizado no Palácio do Planalto. Além dos atuais e futuros ministros, estavam presentes alguns dos que tiveram que deixar suas pastas em função de escândalos, como Antonio Palocci e José Dirceu - este último, inclusive, recebeu deferência especial do presidente Lula, que o citou no discurso. Lula atribuiu a Dirceu o fato de ter conhecido o vice-presidente, José Alencar.
Apesar de um dos cadernos receber o título de "Democracia e Diálogo", o presidente voltou a atacar a imprensa, a quem acusou de só se interessar por notícias ruins relacionadas ao seu governo. "Aos 4% que insistem em dizer que somos ruins ou péssimos", afirmou, em referência às pesquisas, "gostaria de pedir que olhem a Dilminha com olhos diferentes". Lula estava de bom humor e não perdeu a chance de fazer piada com os vazamentos de telegramas diplomáticos americanos pelo WikiLeaks. "Não vai precisar ter vazamento do Wikileaks, estamos colocando à disposição as coisas que nós fizemos, inclusive as coisas no Itamaraty. Nós vamos vazar antes do WikiLeaks.”
Programas - O documento foi assinado por Lula e sua equipe ministerial e registrado por um tabelião. A promessa de registrar o legado de seus dois mandatos em cartório foi feita pelo presidente em 2008. Em seu discurso, Lula disse que o documento é uma prestação de contas do governo e será útil para o trabalho de Dilma Rousseff nos próximos quatro anos. “[O balanço] é para que a nossa querida presidente ao ler o subproduto do trabalho dela, possa se lembrar de coisas que poderia ter feito e o que nós nos esquecemos de fazer. É por isso que Deus e os políticos garantiram a reeleição e a continuidade”, afirmou.
A cerimônia também foi uma espécie de despedida para o presidente, que foi homenageado e muito aplaudido. Lula não quis, no entanto, alimentar o clima de adeus. “Isso aqui não é um ato de despedida, é um ato de trabalho, nós ainda vamos nos despedir em outros momentos”, afirmou.
Além de Lula, a presidente eleita foi muito elogiada pelo governador eleito da Bahia, Jaques Wagner (PT), que discursou no evento como ex-ministro do Trabalho e de Relações Institucionais. “Não tenho dúvida de que essa mulher orgulhará todos nós”, declarou em referência a Dilma. O ministro Franklin Martins, da Secretaria de Comunicação da Presidência, também não poupou elogios. E quase levou Dilma às lagrimas ao declarar seu orgulho de ver como presidente uma mulher que combateu na ditadura militar. "Estou muito confiante de que Dilma será uma tremenda presidente". A chefe da assessoria de imprensa de Dilma na campanha eleitoral, Helena Chagas, substituirá Franklin na pasta.
O evento se transformou também em palco para especulações sobre as futuras nomeações na Esplanada dos Ministérios. O ministro da Cultura, Juca Ferreira, admitiu estar ansioso diante da indefinição sobre o nome que comandará a pasta no próximo governo. “Estou fazendo ioga, que é todo o procedimento que você faz para se acalmar e manter o equilíbrio”, brincou. Segundo ele, a lista de indicados para o ministério é extensa: 36 nomes estão sendo avaliados por Dilma . Já o presidente da Petrobras, Sérgio Gabrielli, preferiu não comentar sobre as nomeações. “Até o dia 31 de dezembro estou tocando a minha obrigação”, declarou.
Lula, mais uma vez, tentou negar que tenha influenciado a nomeação de ministros do governo Dilma, como Guido Mantega e Paulo Bernardo, que comandarão Fazenda e Comunicação, respectivamente. “A Dilma se reuniu com esses companheiros no mínimo 100 vezes mais do que eu. Eles são muito mais amigos da Dilma e tiveram muito mais na sala da Dilma do que na minha sala. Ela escolheu de livre arbítrio, da cabeça dela.”
Balanço - O conteúdo do documento registrado por Lula em cartório foi dividido em seis eixos: desenvolvimento sustentável com redução de desigualdades; cidadania e inclusão social; infraestrutura; inserção no cenário mundial e soberania; democracia e diálogo; e gestão do estado e combate à corrupção. O conteúdo dos seis livros também já está disponível na internet.
Fonte: http://veja.abril.com.br
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